Religião, língua e risco de duplo sentido influem no nome dos carros
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Escolha é das mais complicadas para se lançar um veículo, afirma diretor.
Volkswagen diz que considerou dar outro nome ao Novo Gol.
“Escolha do nome é um dos processos mais complicados em uma companhia de carros”, diz Gustavo Colossi, diretor de marketing da Chevrolet do Brasil. Além de longa – a ponto de demorar mais de um ano– , a definição requer atenção, responsabilidade e estratégia para que o modelo não seja motivo de piadas, preconceito e, consequentemente, fracasso nas vendas. O gerente de marketing da Volkswagen, Enrique Sampaio, revela que o Novo Gol (geração 5) por muito pouco não recebeu outro nome. Segundo ele, a decisão de manter a fabricação do Gol geração 4 causou problemas na hora de ‘bater o martelo’. Mas a tradição prevaleceu. “O Gol é uma marca dentro da marca. Representa muito para o consumidor da Volkswagen. Não fazia sentido não ser Gol o novo produto”, conta. As montadoras não seguem um único método, cada uma tem sua própria maneira de fazer a escolha. Todas, no entanto, começam a trabalhar no nome quando se conhece as características do futuro produto. “Primeiro tentamos entender para quem vamos fabricar o veículo, quais serão suas características e qualidades”, explica Reinaldo Siffert, gerente de marketing da Citroën do Brasil.
Durante o desenvolvimento, o automóvel é tratado internamente por um nome código – muitas vezes uma união de números e letras que não faz o menor sentido para o consumidor. Neste período, o departamento de marketing sugere inúmeros nomes. Depois, de acordo com Colossi, uma lista com dez a 15 é fechada. “Estes passam por uma avaliação mundial para ver se enfrentarão problemas de fonética ou de interpretação (ambiguidade) em algum dos mercados onde o veículo estará presente”, detalha o executivo. Descobrir se os nomes aludem a questões religiosas, gírias ou modismos também faz parte da análise.
Nome 'global' Em geral, quando aprovada a lista com os preferidos, os nomes passam por uma nova triagem, agora envolvendo o marketing e a direção das montadoras. São definidos então os finalistas, que se resumem a três, quatro ou cinco nomes. A decisão final cabe à diretoria mundial da marca. “O nome deve estar definido um ano, um ano e meio antes do lançamento oficial. E ele só poderá ser revelado 60 dias antes”, detalha Colossi. Marca 'reserva' nomes Algumas montadoras realizam, antes do lançamento do produto, clínicas com clientes em potencial. Elas servem para o marketing saber se o nome terá boa aceitação entre os consumidores. O nome Agile, da Chevrolet, foi definido utilizando essa ferramenta. Significados Com relação aos comerciais leves, a Peugeot não segue a mesma tradição. Exemplos são a van Boxer e o utilitário Partner. A picape compacta Hoggar, um projeto 100% brasileiro, herdou o nome de um carro-conceito da marca que demonstrava muita robustez. Hoggar é o nome de uma cadeia de montanhas no deserto do Saara, na África. Um caso curioso é o da van Besta, comercializada pela Kia Motors no Brasil a partir do início dos anos 1990. Segundo a montadora sul-coreana, o veículo se chamaria ‘Best A’ ¬- ‘Melhor A’, na tradução ao pé da letra. Porém, na hora de grafar o nome, a Kia juntou todas as letras, formando a palavra Besta. Por aqui, a marca realizou em 1993 uma clínica para ver a aceitação e a direção optou por manter o nome, que, segundo a Kia, também significa “trabalho”, “trabalhador”, entre outras coisas. Ainda falando de Kia, o modelo Rio recebeu o nome em homenagem à ‘Cidade Maravilhosa’. O monovolume Carnival remete à festa popular Carnaval, nome ideal – de acordo com a Kia – para um veículo destinado à busca de lazer e versatilidade. A Citroën, por tradição, mescla letra e número. O C significa ‘Citroën’ e o número, o tamanho do carro. Atualmente as famílias da montadora francesa vão de 1 (C1, subcompacto comercializado na Europa) a 8 (C8, monovolumes familiares). A curiosidade é que, lembra o gerente de marketing da marca no Brasil, não existe um modelo C7. “Quem sabe um dia”, brinca Siffert. Já a nomenclatura Picasso é uma referência a veículos espaçosos e mais requintados. FONTE: Auto Esporte G1
para se diferenciar da G4 (Foto: Divulgação)
diretor de marketing da Chevrolet no Brasil
Sampaio detalha que muitos veículos que nascem para ser comercializados em um único país podem ser futuramente exportados para outras localidades. Por isso o nome deve ser cada vez uma decisão global da marca em vez de um mesmo veículo ter vários nomes conforme o país/continente. Em algumas ocasiões, isso não é possível. No ano passado, a Chery lançou o Cielo, modelo que é chamado de A3 no exterior, mas que aqui não poderia receber esse nome porque já existia o Audi A3. A solução para o impasse foi eleger o nome 'brasileiro' por meio de um concurso na internet.
Definido o nome, a montadora realiza uma busca mundial para saber se nenhuma marca registrou aquele nome. A Peugeot, por exemplo, que utiliza números para 'batizar' seus carros, já patenteou todas as combinações numéricas que tenham ‘0’ (zero) no meio (de 101 a 909). Por isso, no Salão de Frankfurt de 1963, a Porsche, ao apresentar o modelo 901, foi obrigada a mudar o nome do esportivo para 911.
do segmento hatch compacto; o 7, que é da
sétima geração (Foto: Divulgação)
Nos carros da Peugeot, cada numeral tem seu significado. No 207, por exemplo, o ‘2’ indica que o modelo faz parte do segmento de hatch compacto. Já o ‘7’ diz que o carro está em sua sétima geração. O zero no centro indica que é um produto Peugeot, uma tradição que teve início há mais de 200 anos ainda quando a família atuava em outros ramos industriais.
(Foto: Divulgação)
A inspiração dos nomes pode vir de todas as partes. Nos Estados Unidos, é comum a General Motors dar a seus carros nomes de lugares, como a picape Colorado ou o sedã Malibu, hoje comercializado no mercado brasileiro. A Fiat, por sua vez, gosta de trazer a cultura da Itália para seus veículos. Siena é uma homenagem à cidade. Doblò e Ducato são nomes de moedas utilizadas em outras épocas. E Palio é uma clássica corrida que acontecia em Siena.
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