VW KOMBI

15-05-2011 11:02

NA ATIVA E COM TODO O GÁS, ELA JÁ FEZ DE QUASE TUDO NA VIDA E PERMANECE COMO TESTEMUNHA VIVA DA HISTÓRIA DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA DO BRASIL

VW Kombi

A Kombi é um caso inédito nesta seção. Pela primeira - e talvez única - vez, um carro ainda em produção é "personagem" de Grandes Brasileiros. Nada mais justo, no entanto. Afinal, a veterana de 47 anos foi um dos primeiros nacionais. Desde então, foram fabricadas 1 326 000 unidades da perua VW, como era chamada.


Por mais otimista que fosse, quem poderia prever uma vida tão longa a essa tataravó das minivans? Decerto não estaria na beleza de suas linhas a explicação para tamanha longevidade. Tampouco na estabilidade, prejudicada pela elevada altura do veículo, com o conseqüente centro de gravidade próximo do Himalaia. Segurança? Conforto?

Não é preciso ir tão longe. A resposta está logo ali, na esquina. Quem precisa transportar até 1 tonelada de carga sabe: em mais de meio século não inventaram nada com uma relação custo/benefício tão ou mais interessante que o da perua da VW, que justamente nasceu da necessidade de transporte barato na Alemanha do pós-guerra. Seu conceito não poderia ser mais funcional: uma caixa sobre rodas, com prioridade total para o espaço livre. Até o estepe foi encaixado no encosto do banco dianteiro para não roubar espaço.

Com toda essa vocação para o trabalho, contudo, nem seus criadores poderiam prever tamanho ecletismo. Quem diria que a Kombi fritaria pastel na feira com a mesma dignidade com que abrigava gabinetes médicos e odontológicos móveis? Até como casa ela já atuou: a Kombi-Turismo, algo mais para uma barraca de camping motorizada que propriamente um motor home, foi lançada aqui em 1960, numa fase em que a rede hoteleira nacional estava mais para ritmo de aventura. Não pegou, claro.

Mas nem sempre a Kombi teve perfil exclusivamente utilitário. No final dos anos 50 e começo dos 60, a escassez de opções fazia dela uma alternativa para o carro da família. Que o digam as mais numerosas, que tiravam partido de seus nove lugares e exibiam orgulhosas o modelo luxo, pintado em duas cores.

Essa versatilidade também justifica o fato de a Kombi ser tão dura de matar. Suas vendas, estabilizadas num nível de fazer corar modelos novos, impedem a fábrica de desativar a linha de montagem que desafia padrões de produtividade distantes dos ideais.

A Kombi foi o primeiro veículo a sair da fábrica da VW, inaugurada em 1953. Era apenas montada aqui, vinda em sistema CKD da Alemanha. Somente em 1957 ela deixou de ser naturalizada e ganhou certidão brasileira. Com motor de 1192 cm3 e 36 cavalos, refrigerado a ar - o célebre 1200 -, podia levar até 810 quilos de carga. Somados aos 1040 de seu próprio peso, obrigavam a primeira, do câmbio de quatro marchas, a fazer hora extra quando com carga total. Nas fotos, você vê um belo e raro exemplar 1959, igual à Kombi pioneira. Seu proprietário é Francisco Varca Júnior, um volksmaníaco que só tem elogios à posição de dirigir do utilitário. "Ela obriga o motorista a dirigir na posição correta", diz.

Pode ser, especialmente para quem não se incomoda com a posição horizontal da direção. Já o teste publicado na revista QUATRO RODAS de janeiro de 1963 não é tão complacente e classifica como sui generis a posição do motorista, que viaja sentado sobre o eixo dianteiro. Mas o texto não poupa elogios à funcionalidade do carro.

>> Veja os testes do carro na edição

Alguns detalhes, como o trinco da porta dupla lateral - que exigia precisão de segredo de cofre para ser fechada - e a ventilação, com tomada de ar frontal sobre o pára-brisa e saída no teto da cabine, não agradaram: essa solução deixava água entrar junto com o ar, um problema nos dias de chuva. A reportagem registra os seguintes números de desempenho: 93 km/h de máxima e de 0 a 80 km/h levou 28 segundos. Essas marcas só foram melhorar com a adoção do motor 1500, com 52 cavalos, em 1967: 109 km/h de máxima e 0 a 80 em 21 segundos.

Com manutenção simples e barata, as Kombi não se aposentavam cedo e deixavam exposta uma falha de projeto: a convivência quase promíscua de mangueira e filtro de combustível com o distribuidor não raro provocava um incêndio, em caso de vazamento de gasolina ou mesmo de vapor.

De cara nova, com painel mais completo de três instrumentos e motor 1600, o mesmo do VW Brasilia, ela apareceu no final de 1975. A plástica não chegou a contemplar a Kombi com a sonhada porta corrediça, tal como no modelo Clipper alemão, por questões de custo. A solução só seria adotada no modelo 1997, versão que permanece atual.

Publicado na edição de fevereiro de 2004.

 

 

FOTOS:

O modelo luxo vinha em duas cores.

 A luz de freio era única, sobre a placa na tampa do motor.

O banco é inteiriço e o volante tem posição horizontal. Os instrumentos essenciais concentram-se no velocímetro.

No ressalto do encosto do assento dianteiro fica embutido o estepe.

Os bancos de trás eram removíveis.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FONTE: Quatro Rodas

 

 

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